Extraído do livro A Crucificação de Felipe Strong quando este propôs mudar sua igreja rica para um bairro proletariado
Atualmente, nós vamos à igreja escutar um bom coro, escutar a pregação, e voltamos, novamente, para casa. Temos uma boa escola dominical, estamos bem trajados e confortavelmente instalados, e apreciamos o nosso culto, sem que sejamos incomodados com a presença de pessoas desagradáveis e de posição desigual à nossa.
Mas será que isto é cristianismo?
Onde está o serviço, onde a renúncia de si mesmo, onde o trabalho em prol das almas dos homens? Ah! meu irmão, e minha irma, que está a igreja fazendo, de fato, pela salvação dos homens deste lugar?
Será cristianismo o ter-se, simplesmente, uma igreja confortável, e ir uma ou duas vezes por semana escutar boa música, escutar uma pregação, e, então, voltar par casa e servir-se de um bom jantar?
O que foi que sacrificamos? O que foi que a nós mesmos negamos? O que foi que fizemos para mostrar aos pobres e pecadores que cuidamos de suas almas, e que o cristianismo é alguma coisa mais do que uma religião confortável e seleta para aqueles que possuem as boas coisas deste mundo?
Que tem realizado a igreja para fazer compreender aos pobres e necessitados que ela é uma instituição que anseia pela fraternidade humana? E que sabemos nós, como igreja, dos problemas que vem esmagando os moradores das comunidades e favelas desta cidade?
Suponhamos, porém, que de fato nos mudemos para lá, e então vamos, em pessoa, nos dias da semana, tanto como nos domingos, trabalhar para a elevação daquelas almas imortais. Não teremos, então, a satisfação de saber que estamos fazendo alguma coisa, além de só aproveitarmos a igreja para nós mesmos?
Não teriamos, então, a consciênia de que tentamos, ao menos, compreender o espirito de nosso abnegado Senhor, o qual mandou que fizessemos discípulos a todas as nações da Terra?
A mim me parece que o plano proposto é um plano cristão.
Sendo os fatos como são, eu creio, piamente, que a igreja tem uma oportunidade para mostrar ao mundo, que está fazendo um trabalho fora do comum e que possui o espírito de uma dedicação completa, que visa a alcançar e elevar a raça, e isto de um modo que é, a um tempo, melhor e mais expedito.
Se se exige dos indivíduos que por Cristo e pelo seu reino sofram, e até se sacrifiquem, eu não vejo comos estes mesmos indivíduos, uma vez organizados em igreja, não continuem tendo o mesmo dever.
E, neste caso, ainda em maior escala, de um modo que represente um grande sacrifício coletivo, de maneira que convença o povo de que o amor de homem a homem é a unica coisa que toca muito de perto o problema da população marginal, e que é o princípio de uma solução cristã satisfatória!